Encontro Nacional celebra 20 anos do Diálogo Florestal com foco no tema biodiversidade 5w3l58

maio 6, 2025 | Biodiversidade, Notícias 5h305f

O evento, que marcou os 20 anos de fundação da iniciativa no Brasil, foi realizado pela primeira vez na Amazônia, em Alter do Chão (PA).

O Encontro Nacional do Diálogo Florestal foi realizado entre os dias 8 e 11 de abril de 2025 com foco em discutir a biodiversidade e celebrar os 20 anos de atuação da iniciativa. Com o objetivo central de promover o conhecimento e troca de experiências, o evento ocorreu em Alter do Chão, no Pará, e reuniu mais de 60 pessoas, entre membros dos sete Fóruns Florestais e pessoas convidadas.

A programação de quatro dias contou com painéis, apresentações de resultados, reuniões para cocriação da quantificação de metas relacionadas à biodiversidade e discussões sobre temas importantes à iniciativa, como as Conferências de Clima (COPs) e as Estratégias e Planos de Ação Nacionais para a Biodiversidade (EPANBs).

Conforme a coordenadora executiva nacional do Diálogo Florestal, Fernanda Rodrigues, este encontro foi o primeiro realizado na Amazônia, o que reforça o compromisso da organização com a biodiversidade do bioma. “Os nossos encontros nacionais são momentos de discussão do que foi feito ao longo do período anterior e de estabelecer caminhos conjuntos. Agradecemos os parceiros e parceiras que tornaram esses 20 anos possíveis, e também aos que contribuíram para a realização deste encontro em 2025”, destaca.

Na abertura do evento, a recepção ficou por conta da Coordenação Executiva Nacional. Maria Margarida Ribeiro da Silva (Arimum), do conselho do Fórum Florestal da Amazônia, Francisco Rollo (Suzano) e José de Sá (Universidade de Rondônia) deram as boas-vindas em nome do Conselho Nacional do Diálogo Florestal ressaltando a importância da realização do primeiro Encontro Nacional na região amazônica e da temática da biodiversidade. 

Na sequência, o dia prosseguiu com uma dinâmica de interação do grupo e a apresentação dos resultados dos sete Fóruns Florestais que compõem o DF no Brasil e dos avanços no contexto nacional. Gary Duning, diretor executivo do The Forests Dialogue, parabenizou o Diálogo Florestal pelos 20 anos e falou um pouco da iniciativa internacional de restauração que terá etapa de campo no Brasil em 2025.

O primeira dia terminou com o “Diálogo de Saberes” onde André Guimarães, diretor executivo do IPAM e um dos fundadores do Diálogo Florestal convidou Miriam Prochnow, João Augusti, Miguel Calmon, Beto Mesquita e Fernanda Rodrigues para junto com a plenária refletir sobre os primórdios do Diálogo Florestal e caminhos futuros. A noite, uma celebração com carimbó e comidas regionais marcou a celebração da segunda década do Diálogo Florestal no Brasil.

↗︎ Registro da celebração de 20 anos do Diálogo Florestal. Crédito: Vitor Lauro Zanelatto.

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Métricas e indicadores de biodiversidade são temas de painéis no segundo dia 2b7272

No segundo dia, o tema central foi métricase indicadores de biodiversidade, conversando com a temática central do Encontro. No “Padrões Padrões: experiências de membros do Diálogo Florestal”, houve discussão sobre instrumentos que orientam o monitoramento, a avaliação e a certificação dos impactos e dependências das organizações em relação à biodiversidade.

Déborah Silva, da I Care Brasil, introduziu o TNFD (Taskforce on Nature-related Financial Disclosures), destacando sua proposta de criar uma estrutura global de reporte para que empresas e instituições financeiras possam identificar, avaliar e divulgar riscos e oportunidades associados à natureza.

Na sequência, Yuri Oliveira, do FSC Brasil, abordou como a certificação FSC tem avançado na mensuração e comunicação dos impactos positivos sobre os serviços ecossistêmicos. Ele apresentou o procedimento de “Impacto Verificado”, que permite quantificar e comunicar resultados relacionados à conservação da biodiversidade, restauração florestal, proteção de habitats e manutenção de espécies.

Por fim, Regiane Borsato apresentou o padrão LIFE, uma metodologia de certificação voltada para gestão territorial sustentável. O padrão busca reconhecer organizações que incorporam de forma estruturada a conservação da biodiversidade em suas operações, fornecendo critérios robustos e aplicáveis a diferentes realidades produtivas.

O segundo bloco da manhã do dia 9 de abril reuniu representantes de três grandes empresas do setor florestal — Suzano, Veracel e Cenibra — que compartilharam suas experiências com sistemas de reporte e certificações voltados à biodiversidade.

Francisco Rollo apresentou o percurso da Suzano na adoção do TNFD (Taskforce on Nature-related Financial Disclosures), iniciado em 2021 com participação nos grupos de trabalho e realização de pilotos focados em áreas sensíveis. 

Na sequência, Virgínia Camargos apresentou o caso da Veracel, que obteve o reconhecimento do FSC para serviços ecossistêmicos associados à RPPN Estação Veracel, com 6.069 hectares de Mata Atlântica protegida. O procedimento de verificação de impacto do FSC foi adotado visando maior visibilidade e valorização da biodiversidade, com destaque para o monitoramento contínuo de fauna desde 2008. 

Encerrando o bloco, Jacinto Lana apresentou a trajetória da Cenibra com a certificação LIFE. A empresa foi a primeira do setor florestal a obtê-la, com reconhecimento como organização “nature positive”. A metodologia LIFE permitiu à Cenibra mensurar sua pressão sobre a biodiversidade e seu desempenho positivo, com base em indicadores de gestão e ações concretas.

 

Discussão sobre métricas biodiversidade u5x6k

Dentro das atividades propostas no Encontro Nacional, destacou-se a temática da biodiversidade. Na tarde do dia 9 de abril, foi realizada a “Oficina de Métricas de Biodiversidade”, com o objetivo de compartilhar experiências, discutir elementos-chave para mensuração de avanços e instigar reflexões sobre o quê, como, onde, quanto, para quem e os motivos pelos quais monitorar a biodiversidade.

A atividade foi estruturada com base nas metas priorizadas em uma pesquisa conduzida pelo Diálogo Florestal junto aos Fóruns regionais, que contou com 47 respostas. As metas destacadas incluíram o fim do desmatamento (Meta 1B), a restauração dos ecossistemas (Meta 2), a proteção e recuperação dos serviços ecossistêmicos (Meta 11), o planejamento espacial (Meta 1A), o manejo dos ecossistemas (Meta 3) e, por sugestão do Conselho de Coordenação, a promoção de atividades empresariais sustentáveis (Meta 15).

A dinâmica foi organizada em formato de “café mundial”, com seis estações temáticas, cada uma dedicada a uma das metas priorizadas. Os participantes foram divididos em seis grupos e rotacionaram entre as estações a cada 20 minutos. Em cada estação, os grupos buscaram responder coletivamente às perguntas: “Como quantificar esta meta?” e “O que deve ser considerado?”. Ao final das rodadas, os principais destaques e aprendizados de cada estação foram compartilhados em plenária.

 

Dia de Campo levou participantes para conhecer casos da Amazônia 4l292s

No dia 10 de abril, foi realizado o Dia de Campo, onde puderam conhecer a área de manejo florestal sustentável, entender a produção de óleo de copaíba e visitar a movelaria da Cooperativa Mista da Flona Tapajós (Coomflona). Também realizou-se visita no Bosque da Embrapa Amazônia Oriental – Belterra, para conhecer experimentos pioneiras de silvicultura de nativas e exóticas na Amazônia, e a correlação com a biodiversidade em plantações florestais, relações com comunidades do entorno e desafios para pesquisas e monitoramento dos resultados.

 

Experiências práticas e desafios com indicadores e reportes de biodiversidade 1m6y2v

Na manhã de 11 de abril, seguindo com o tema de reportes e indicadores de biodiversidade, houve um com  representantes de empresas e organizações da sociedade civil para compartilhar experiências práticas. A sessão buscou explorar como diferentes atores têm incorporado a temática da biodiversidade em suas estratégias e instrumentos de reporte, destacando desafios e oportunidades em contextos diversos.

Oscar Artaza, do Instituto Ciclos, apresentou a experiência da organização da sociedade civil com o monitoramento ecológico em projetos de restauração, com destaque para o trabalho desenvolvido no bioma Mata Atlântica na Bahia. Já Ana Paula Pulito, da CMPC, abordou a evolução dos reportes de biodiversidade da empresa, com base em frameworks como TNFD, GRI, SASB e o Índice Dow Jones de Sustentabilidade. Entre os principais desafios apontados por ela estão a multiplicidade de padrões, a complexidade de mensurar impactos ecológicos e a integração entre dados financeiros e ambientais. Por outro lado, Ana ressaltou oportunidades como o fortalecimento da governança socioambiental, o o a capital verde e a diferenciação competitiva no mercado.

Maurem Alves, da Klabin, reforçou a importância da padronização e comparabilidade dos indicadores de biodiversidade. Apresentou os avanços da empresa na elaboração de relatórios que contemplam desde produção florestal até embalagens, com destaque para a manutenção de mais de 900 mil hectares conservados. “Entre os principais obstáculos estão a sobreposição de exigências regulatórias nacionais e internacionais, a consolidação das informações e a necessidade de formar linhas de base consistentes”, compartilhou Maurem.

 

Oficina sobre reportes de biodiversidade mapeia desafios e caminhos 5p1b

Após as apresentações das experiências, os participantes foram reorganizados em novos grupos para uma dinâmica voltada à construção coletiva de caminhos para superar os principais desafios identificados. Durante 30 minutos, refletiram sobre alternativas e estratégias possíveis para lidar com obstáculos como a complexidade dos padrões de reporte, a dificuldade de mensurar impactos sobre ecossistemas, a integração de dados financeiros e ambientais e a pressão crescente por transparência e consistência das informações.

Entre os resultados da oficina, foram mapeados riscos, como pontos cegos das empresas, a necessidade de diagnósticos para entender as diferentes realidades brasileiras, o tratamento transversal do tema, bem como a relação íntima entre dependentes de recursos e riscos para os negócios. As dependências mapeadas foram relacionadas à falta de métricas de biodiversidade comuns para água, clima e floresta nativa, a necessidade de envolvimento de atores, a falta de pesquisas específicas também relacionados à solo e à silvicultura.

No item Impactos, os participantes apresentaram a falta de padronização metodológica na avaliação da biodiversidade; a necessidade de correlacionar mais objetivamente reportes de impacto, risco e dependências versus ações e mudanças práticas, a renda reputacional no reporte dos impactos em totalidade; e a necessidade de traduzir/tornar íveis os resultados das pesquisas.

Por fim, em Caminhos Possíveis apontou-se a atuação na escala territorial, a necessidade de comunicar de forma culturalmente apropriada, incluir a sociobiodiversidade nos reportes e a repartição coletiva dos ativos de biodiversidade.

↗︎ Debates, apresentações de experiências e Diálogos de campo marcaram a agenda do Encontro Nacional. Crédito: Vitor Lauro Zanelatto e Marília Botelho.

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Projetos em andamento na região e mensagem para a COP 5p4hh

Na tarde da sexta-feira dia 11 foi o momento de aprofundar algumas experiências em curso na região. Mateus Feitosa do Imaflora contou a experiência do Programa Florestas de Valor, que com foco na valorização da floresta e das comunidades locais, dissemina e fortalece técnicas de produção sustentáveis nas regiões norte e sudeste do Pará, sendo um dos pilares sociobiodiversidade e negócios comunitários. Mônica de Almeida da Associação Amabela trouxe a experiência de um grupo de agricultoras de Belterra que trabalham com extrativismo da floresta, englobando biodiversidade, uso e vida. Já José da Sá, da UNIR, contou sobre o projeto de residência agroflorestal em Rondônia, que trabalha as cadeias de valor da bioeconomia da florestal e a da sociobiodiversidade na Amazônia Ocidental com o objetivo central de Fortalecer as cadeias de valor da sociobiodiversidade, via capacitação de recursos humanos, para atuar junto aos povos originários e comunidades tradicionais.

Por fim, Fernanda Rodrigues liderou a escuta sobre as mensagens que o Diálogo Florestal deverá levar para a COP do Clima deste ano. O conselho de coordenação nacional com base nos elementos trazidos pelas pessoas participantes vai elaborar um documento para ser levado à COP 30 via seus membros. Para a COP de biodiversidade se trabalhará uma estratégia de presença institucional em 2026 na Armênia, e a criação de um espaço de diálogo permanente sobre a temática entre os membros. Por fim, a correlação entre os diversos debates internacionais foi ressaltada.

Jorge Martins do Instituto Itapoty, Larissa Horst da Cenibra e Milton Kanashiro da Embrapa Amazônia Oriental encerram o Encontro Nacional 2025, ressaltando a riqueza dos diálogos e participação de pessoas de todo o Brasil que puderam compartilhar suas experiências, viver a Amazônia e construir caminhos para o avanço na temática de biodiversidade.

↗︎ Apresentação de projetos em andamento na região. Crédito: Vitor Lauro Zanelatto.

 

Apoio para a realização do Encontro Nacional

O evento foi realizado pelo Diálogo Florestal sob liderança do Conselho de Coordenação nacional, com apoio do Fórum Florestal da Amazônia e do Instituto Itapoty, que hospeda a secretaria executiva do Diálogo Florestal. Agradecimento especial às empresas que através de recursos financeiros viabilizaram a realização do Encontro Nacional: CMPC, Cenibra, Klabin, Suzano e Veracel, além da Stora Enso. 

> e a galeria de fotos e o relatório do evento, que será disponibilizado em breve

 

Sobre o Diálogo Florestal 5i2wu

O Diálogo Florestal é uma iniciativa pioneira e independente, criada em 2005, voltada a facilitar a interação entre representantes de empresas, associações setoriais, organizações da sociedade civil, grupos comunitários, povos indígenas, associações de classe e instituições de ensino, pesquisa e extensão. Nasceu destinado a ser um espaço qualificado para diálogo entre setores historicamente antagônicos, como, por exemplo, empresas do setor de base florestal e organizações ambientalistas.

Atualmente, o Diálogo Florestal conta com 245 membros de diversos segmentos, que incluem empresas, organizações da sociedade civil, povos indígenas e comunidades, universidades, entre outros, e sua atuação se dá por meio de sete Fóruns Regionais (Amazônia, Bahia, Espírito Santo, Fluminense, Mineiro, Paraná/ Santa Catarina e Paulista), que concentram as atividades e discussões locais. Possui, ainda, um Conselho de Coordenação e uma Coordenação Executiva Nacional.

Autoria: Cândida Schaedler
Revisão: Fernanda Rodrigues
Fotos: Vitor Lauro Zanelatto